É preocupante ter duas empreiteiras que não concluíram obras do Rodoanel à frente de novas linhas do Metrô?
Grupo Acciona e construtora Mendes Júnior estão envolvidas nas obras das linhas 2-Verde e 6-Laranja, dois projetos bilionários sobre trilhos
O trecho norte do Rodoanel prometia tirar milhares de caminhões de dentro da capital paulista e completar o anel rodoviário cuja primeira etapa havia sido aberta em 2002. Bandeira eleitoral do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), a obra deveria ter ficado pronta em 2016, mas empacou. Desde os primeiros anos, problemas como desapropriações supervalorizadas, túneis desabando e abandono de canteiros marcaram o projeto que teve os contratos suspensos entre o final de 2018 e o começo de 2019.
A gestão Doria agora promete lançar uma nova licitação para concluir os 44 km de extensão e que se encontram em fases e situações diferentes. Na semana passada, no entanto, chamou a atenção o resultado do laudo que o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) realizou a pedido do governo. De centenas de problemas, 59 foram considerados graves como pilares desprumados e túneis com infiltração e revestimento trincado. Entre as empresas envolvidas com a obra estão dois grupos que deverão estar à frente dos dois maiores projetos de linha de metrô de São Paulo nos próximos anos, a Acciona e a Mendes Júnior.
Foi o suficiente para que alguns veículos de imprensa demonstrassem preocupação com o fato, como ocorreu com o site O Antagonista citando matéria da revista Crusoé em que aponta a Acciona como a “empreiteira líder em falhas”. Mas será que veremos a repetição dos mesmos problemas nas duas obras? A resposta é “provavelmente não”.
O cenário para o setor foi tão abalado pela operação Lava Jato que parece pouco provável que empresas se exponham a certas situações de risco. Se antes esse tipo de atitude, que pode envolver superfaturamento, pedido de aditivos exagerados e o não cumprimento do serviço contratado passavam despercebidos da opinião pública, hoje essa exposição é maior. O dano para alguns grupos tradicionais foi enorme a ponto de muitos até hoje estejam em dificuldade para se recuperar, como é o caso da célebre Odebrecht.
Caprichos da lei
No caso específico da Mendes Júnior, que está bastante endividada e em recuperação judicial, o governo do estado costurou a entrada de um sócio chinês, a PowerChina, capaz de dar fôlego para que esse consórcio consiga assumir as obras dos lotes 3, 4, 5 e futuramente o 7, na extensão da Linha 2-Verde.
A Acciona, por sua vez, além de também ter vencido um lote da Linha 2 deve assumir um projeto muito maior, a Linha 6-Laranja. Os detalhes desse negócio devem ser divulgados até o dia 24 de março, nova data para entrada em vigor da caducidade do contrato com a Move São Paulo.
O grupo espanhol também teve dois lotes do Rodoanel rescindidos, porém, num estágio mais adiantado. A empresa, no entanto, é acusada pelo Ministério Público Federal de desvios na obra, o que nega. Já a Mendes Júnior era responsável pelos lotes mais atrasados da rodovia, na ligação com o Rodoanel Oeste. Em tese, seria mais adequado que o grupo mineiro não assumisse os lotes da Linha 2 diante do que fez e deixou de fazer na obra do estado, mas a lei não inclui contratos já assinados em casos em que a empresa é considerada inidônea.
Pesa a favor da Acciona o fato de ter interesse em que a Linha 6-Laranja seja concluída o quanto antes para que passe a gerar receita em sua operação. A empresa também deverá comprovar capacidade financeira para bancar sua parte no projeto bilionário. A questão envolve também o governo, que deve fiscalizar com rigor a atividade dessas e de qualquer empreiteira contratada. Sem um controle eficiente (e a cobrança da opinião pública), a chance de termos problemas cresce, algo que não deveria ocorrer jamais.
Fonte: Metrô CPTM