Inovação no transporte público pede ônibus por demanda e contato com o cotidiano da população

Em seminário, debatedores discutiram oferta desigual e como otimizar opções já disponíveis

Embora estejam na vanguarda da mobilidade urbana, aplicativos de viagem por demanda e sistemas de compartilhamento de bicicletas e patinetes não são solução mágica em contextos nos quais a oferta de transporte é desigual.

Na região metropolitana de São Paulo, apenas 1 a cada 5 paulistas têm acesso a um ponto de transporte público a menos de 15 minutos de caminhada de sua casa, segundo estudo realizado pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento. Quanto menor a renda, mais as pessoas estão afastadas desses pontos e mais tendem a precisar do transporte público.

“A maioria da população tem dificuldade de fazer outras escolhas por causa do custo. Essas pessoas não têm acesso a novas tecnologias ou a muitas informações e são as que mais sofrem com o deslocamento”, afirmou Camille Bianchi, professora da Escola da Cidade e fundadora do escritório franco-brasileiro de arquitetura Readymake.

A urbanista participou do 3º seminário Mobilidade e Inovação, realizado pela Folha nesta quarta-feira (30) no Unibes Cultural, em São Paulo. O evento contou com patrocínio da CCR.

Apesar da integração entre modais seja uma realidade em São Paulo, onde é comum a combinação de ônibus, carro, metrô, bicicleta e outros transportes para que uma pessoa chegue ao seu destino, o processo ainda se dá de forma desordenada, segundo Pedro Somma, diretor-comercial da Quicko, startup de big data e inteligência em mobilidade.

“As pessoas se deslocam por hábitos. Quando você leva informação qualificada, elas conseguem tomar decisões melhores”, defendeu Somma.

Para mudanças significativas nos deslocamentos diários e melhora na qualidade de vida, mais do que investir em novos modais é necessário otimizar as opções já disponíveis, afirmou o representante da Quicko.

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“O serviço está funcionando e atendendo a demandas que as rotas fixas não estavam respondendo”, afirmou Pinheiro, que anunciou a adoção do modelo pela cidade de Fortaleza ainda neste ano.

O ônibus por demanda opera por concessão, o que permite um modelo regulatório mais desenvolvido que o dos aplicativos de carros. Na modalidade, os veículos são solicitados por meio de um aplicativo, que indica ao usuário o melhor trajeto. As rotas são mais flexíveis, e as viagens, mais rápidas do que em ônibus convencionais.

Pinheiro demonstrou preocupação com a supervalorização dos modos de transporte individuais em detrimento do público.

“Está fora de moda valorizar o serviço público, o que é um contrassenso. Tudo faz pensar que a inovação só cabe nos meios privados, mas não é verdade. É possível tornar o transporte coletivo mais competitivo”, disse o presidente da NTU.

Usar dados de aplicativos de mobilidade para aprimorar o fluxo nas cidades é uma das premissas da inovação. Seu alcance pode influenciar políticas públicas de investimento, mas ainda falta conhecimento de organizações públicas para isso, afirmaram os debatedores.

“Para qualquer avanço tecnológico é preciso acesso a dados, mas muitas prefeituras não têm como lidar com eles com a mesma eficiência que a iniciativa privada. Adaptar-se é um desafio”, disse Somma.

Melhorar a mobilidade nas grandes cidades ainda passa pela falta de conhecimento do perfil da população que se desloca, destacou Camille Bianchi.

“A experiência do viajante é um dado que não existe porque são experiências cotidianas das pessoas. Como saber se alguém faz um caminho mais longo porque há tráfico de drogas, não tem iluminação ou porque o comércio fechou?”

Fonte: Folha de São Paulo

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